domingo, 20 de agosto de 2017

Patriotismo de Copa: uma doença de um povo nada patriota

O brasileiro nunca foi patriota de fato. Gosta de assumir como tal porque lutar pelo próprio país é um valor considerado socialmente positivo. Mas é uma luta sem luta. na verdade este papo de "patriota" é mais para agradar aos outros e garantir os benefícios que só podem ser conquistados por decisão alheia ou quando dependem de uma sociabilização intensa para serem obtidos.

Na boa, se você estiver ouvindo de um brasileiro algo como "eu sou patriota", ignore: ele está mentindo. O verdadeiro patriota sai as ruas e só sai delas quando bens, riquezas do país e os direitos do povo brasileiro forem preservados e melhorados. Nem mesmo a esquerda que em seu discurso sensato fala em preservar bens e direitos é tão patriota, pois percebe-se que nem ela está nas ruas.

Éramos para expulsar as empresas estrangeiras e fortalecer as nossas. Éramos para escolher políticos altruístas ao invés de votar, em troca de interesses pessoais, corruptos para que nos divirtamos falando mal deles. Éramos para, ao invés de ficarmos parados cantando hino olhando diante de um pedaço de pano, tomarmos alguma atitude para que o país se desenvolvesse.

O mais interessante é que as manifestações que foram responsáveis por esta silenciosa destruição do país - a ponto de se tornar em futuro próximo um novo Bangladesh, com multidões de indigentes - exaltavam patriotismo e símbolos cívicos, mas com um detalhe: as famigeradas camisetas da CBF.

Sim, porque na verdade, o que os brasileiros entendem como "patriotismo" é esta atitude infantil de priorizar uma simples brincadeira, no caso, o futebol, como se ele fosse "importante para a dignidade do povo brasileiro". Pior que existem brasileiros, e não são poucos, que acreditam que a "vitória da 'seleção' em copas melhora a economia do país porque brasileiros trabalham mais felizes". E pasmem: EU OUVI ISSO!

Não é de se estranhar que em manifestações supostamente cívicas apareçam pessoas usando a camiseta da CBF. Sim, para gigantesca parte dos brasileiros - incluindo a esquerda que se recusa a usar tal camiseta em manifestações políticas - o futebol é nosso maior símbolo de civismo e isso está arraigado na sociedade brasileira.

Isso acontece de tal forma que a título de comparação, Pelé é o nosso maior herói cívico (algo como o que Simon Bolívar representa para o resto da América Latina). Neymar é o herói atual e mesmo quem o critica, logo após a copa vai se orgulhar dele e colocar a sua foto no melhor lugar de sua casa.

A priorização do futebol para o pueril povo brasileiro é tanta que a derrota sofrida na copa de 2014, na própria casa, quando os amarelos levaram de 7x1 da seleção alemã, rendeu um trauma para os brasileiros, que falam no assunto até hoje. Enquanto isso, vemos direitos essenciais serem cancelados e estamos felizes e tranquilos , preocupados apenas com o próximo jogo do Flamengo ou com a copa de 2018. Como se a vitória no futebol pudesse resolver algum problema.

É um patriotismo estranho. na verdade nunca fomos patriotas e damos sinais de que não seremos tão cedo. Afinal, estamos perdendo o nosso país, embora a "seleção" esteja intacta e vai muito bem, obrigado. Mas o fato de ainda termos futebol - graças ao empenho dos mesmos patrocinadores do golpe militar e do de 2016, que patrocinam a "seleção" - nos traz tranquilidade mesmo nos piores momentos.

Na verdade, brincamos de sermos patriotas por acreditarmos que isso melhorará a nossa imagem diante das outras pessoas, favorecendo ainda mais o "jeitinho" que compensará a dificuldade que só aumentará no país graças a nossa incapacidade de lutar por nossos direitos. Afinal, para um povo pueril de apenas 500 anos, ainda na infância coletiva, a brincadeira sempre vem antes da obrigação. Mesmo que esta brincadeira seja tratada como "obrigação". 

Enfim, será mais doce, suave e agradável sofrer as imensas dificuldades que virão tendo mais um caneco de ouro na estante da CBF. E assim, continuarmos a pensar que somos patriotas, mesmo chorando com a camiseta da gringa Nike, espremida em nossas mãos.

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