quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Falta seriedade nas críticas contra a hegemonia futebolística

Um pais que deveria se destacar pela diversidade adere a um monopólio quando o assunto é lazer esportivo. Brasileiros priorizam o futebol, arraigado como forma de auto-afirmação do brasileiro. A coisa chega a tal ponto que o gosto pelo futebol chega a ser regra de etiqueta. No Rio de Janeiro, por exemplo, é uma ofensa assumir publicamente o desprezo pelo futebol.

Em tese, ninguém é obrigado a gostar de futebol. Mas na prática todos são realmente obrigados. Assumir o desgosto pela modalidade esportiva incomoda os outros e gera intolerância. Uma reação similar a que os cristãos tem ao conhecer um ateu. Os não-torcedores menos corajosos invetam que gostam e até escolhem um dos times para fingir a torcida. Mas seria melhor que isso não fosse necessário e que o desprezo pelo futebol fosse respeitado como um direito.

Mas do lado dos que não curtem futebol, fica faltando uma postura mais responsável na reivindicação do direito de não gostar de futebol. Aqueles que assumem não gostar de futebol agem como se estivessem tentando aceitar uma derrota e se isolando como medida para tentar fugir de uma gigantesca injustiça social que exclui aqueles que não querem participar da "grande brincadeira".

Falta seriedade nos fóruns anti-futebol. Blogues que criticam o fanatismo ou foram extintos, ou estão inativos ou não falam mais no assunto. Nos fóruns, ao invés de textos inteligentes e críticas consistentes, há um desfile de xingações, de postagens que se limitam a redundância de ficar reafirmando sua aversão ao futebol e comentário rasos que não conseguiriam convencer os que acreditam no futebol como item indispensável à vida do povo brasileiro. E por isso tudo continua como está, com torcedores e não-torcedores não se levando a sério mutuamente e trocando ofensas e acusações.

O futebol é uma forma de lazer. E como tal é um item supérfluo. Mas tradicionalmente sua hiper-valorização o transformou em uma desculpa para tentar elevar a auto-estima dos brasileiros, acostumados com desgraças e derrotas em setores mais essenciais do cotidiano. É salutar para mutos ingênuos acreditar que pelo menos no futebol somos os melhores*, mesmo isso sendo uma farsa.

Lutar contra a correnteza dos que curtem o futebol (incluindo aqueles que fingem curtir por motivos sociais, como fazem a maioria das mulheres) é complicado. Penso que deveríamos levar a sério os fóruns que criticam  fanatismo do futebol e exigir da opinião pública (regulada pela mídia) um respeito a quem não curte e a consagração da diversidade de gostos pelo esporte. 

Futebol não é a única modalidade e creio que monopólios e hegemonias não combinam com a cultura brasileira, que nasceu para a diversidade. Não gostar de futebol é um direito e dane-se se o futebol e o nosso maior fonte de confraternização. Uma pessoa nunca deve ser valorizada pelos seus gostos e sim pela maneira de como enxerga a vida. Um bandido que gosta de futebol não pode ser melhor tratado do que um cidadão honesto que detesta futebol.

Agora quanto aos que detestam futebol, mas não sabem o que fazer nos fóruns: vamos elevar o nível dos nossos debates. Vamos mostrar a esses monopolistas que somos inteligentes e altruístas. Que ninguém aqui é terrorista em luta pelo fim do futebol. Queremos que o futebol exista, só não queremos que ele se monopolize e se torne uma obrigação. Tudo que queremos mesmo e passar bem longe do futebol. Não nos comparem aos hooligans, que adoram futebol, mas gostam de associá-lo a violência (talvez pelo excesso de testosterona, creio).

E gente, vamos melhorar nossa participação nos fóruns, criar e manter novos blogues. Continuarmos agindo sem levar a sério nossa aversão ao futebol é assumir a derrota diante da imensa massa que nos obriga a gostar daquilo que para nós não oferece o menor prazer. 

Se nos achamos mais inteligentes que os amantes do esporte praticado por trogloditas analfabetos, vamos provar que nós somos realmente inteligentes. Em caso contrário, alguém com poder de influência¹ vai conseguir convencer a maioria de que futebol e monopólio, e obrigação e quem não gosta que saia do Brasil.

----------------------------------------------------
*OBS: A ideia de que somos os "melhores no futebol mundial" é um mito falso plantado pela mídia. Não somos os melhores e nunca fomos. Só sabemos aproveitar as oportunidades. Fatos comprovam que o "jeitinho brasileiro" também aparece no futebol. Ou seja, também somos desonestos quando jogamos futebol. Curiosamente as melhores fases do Brasil no futebol coincidem com o bom êxito de cartolas corruptos. Mas isso fica aqui entre nós.

¹OBS: Bom lembrar que para a mídia, incluindo a opinião de pessoas famosas com alto poder de influência, o futebol é uma unanimidade, "brasileiro" é sinônimos de "torcedor de futebol" e quem não curte futebol não existe ou "não sabe viver em sociedade", "ofendendo a maioria das pessoas". Acreditem, pensamentos como esses estão arraigados em nossa cultura, sendo difíceis de serem desmentidos.

Vini Jr, Racismo e a hipocrisia da Classe Média brasileira

O assunto desta segunda feira com certeza foi o inaceitável caso de racismo sofrido pelo jogador Vinicius Júnior, o Vini, durante um jogo de...